segunda-feira, 1 de abril de 2013

As fotonovelas, hoje, quase esquecidas, já foram fenômenos de vendas no Brasil nos anos de 1970. Além de possibilitar diversas leituras, possuem inúmeras qualidades pedagógicas que podem ser exploradas dentro de sala de aula ou mesmo em ambientes não formais de ensino. Primeiramente será delineado um breve histórico sobre a distribuição e produção de fotonovelas, dando destaque àquelas de âmbito nacional. Compreendendo uma narrativa mista de imagens fotográficas e texto verbal, em seu início, as fotonovelas eram geralmente publicadas em revistas, livretos ou pequenos trechos editados em jornais, entretanto suas raízes são muito anteriores. As heranças da narrativa com imagens já existem há 15.000 anos antes de Cristo, as pinturas rupestres já traziam seqüências de ações, caçadas e atividades comunitárias da época. outras evoluções determinantes na questão da narrativa ocorreram com a transposição da forma de comunicação oral para o código escrito. Os egípcios há 5.000 anos, já pintavam seqüências de imagens relatando a vida dos faraós e da sociedade ao seu redor, assim como várias outras civilizações, mesclando símbolos gráficos para a representação fonética. Na Idade Média, as iluminuras dos pergaminhos e livros serviram para complementar o entendimento da narrativa escrita. Alexandre Valença Alves Barbosa citando Christiansen e Magnussen em sua dissertação de mestrado, faz um histórico sobre os quadrinhos e nos remete a essas características também na cultura Maia: Essa mescla de texto e imagem não ficou restrita apenas na Europa e Ásia menor. Quando os espanhóis chegaram à América Central encontraram na cultura Maia um sistema de imagens que unia escrita e ilustração. Neste sistema podemos claramente identificar a imagem principal como foco da narrativa e pequenos símbolos que podem ser traduzidos como a escrita Maia. (2006, p. 39-40) Graças a essas evoluções do processo de comunicação e aos avanços tecnológicos, foi possível a produção de veículos impressos e junto com esses, o folhetim no século XIX, em pleno movimento romântico, estreitamente ligado à literatura de massa. O Folhetim antecedeu a fotonovela e consistia em uma nova forma de contar histórias no jornal. Segundo Maria Imaculada Cavalcante (2005, p. 64) autora do artigo Do Romance Folhetinesco às Telenovelas: “O folhetim é desde seu nascimento, o romance publicado no rodapé dos jornais, por sua vez, vendido a preços baixos e com grande tiragem, sofrendo grande influência da produção jornalística voltada para o gosto do público urbano.” Durante todo o séc XX, o folhetim reedita histórias de sucesso. O grande público atraído por essa leitura não se interessa por conhecer seus autores, pois não é a personalidade desses que importa, mas sim os personagens que vivem papéis heróicos pelas causas da justiça e do amor. Leitores fiéis acompanham periodicamente as histórias, não exigindo uma grande literatura, todo o interesse se volta para as narrativas, dramas e tramas. Parece haver preferência por temas amorosos, fantásticos e dramáticos. Camargo e Berezovsky (1978 p. 45) escrevem sobre os folhetins, o que pode ser também estendido à fotonovela: “Buscam-se justificativas para o enorme sucesso do folhetim, a ele se atribuindo conseguir despertar no homem do povo os elementos de fantasia necessários para alimentar seus sonhos.” Do folhetim a fotonovela ainda herdou a fragmentação em periódicos, presente em algumas revistas, buscando satisfazer o gosto do leitor consumidor com intrigas e divertimento intencionalmente voltados para prender a atenção e conquistar os consumidores para leitura dos próximos capítulos e conseqüentemente a venda de novos exemplares. Os espaços dos folhetins também foram favoráveis para o surgimento das célebres tiras, com traços estilizados e o enfoque predominantemente cômico. Após, juntando essas tiras formavam-se histórias em quadrinhos. De acordo com Alexandre Valença Alves Barbosa (apud GONÇALO, 2006): Na década de 30, os norte-americanos tiveram a idéia de fazer um compêndio das tiras de jornal em um único exemplar criando assim a revista de histórias em quadrinhos ou Comic Book. Até então, as histórias eram encartadas nos jornais e vendidas como suplementos. (p. 40) Essa seqüência de planos presentes nos quadrinhos e também no cinema, antecede a diagramação da fotonovela, mas sem dúvida um dos fatores mais importante para a fotonovela é o advento da fotografia. A partir de 1926, e atribuída ao francês Joseph Nicéphore Niépce, a fotografia desenvolveu-se em meio a Revolução Industrial e trouxe informações visuais do mundo e das várias realidades sociais. Assim, o aperfeiçoamento técnico da fotografia e com o passar do tempo a fácil manipulação, foram fatores importantes para o surgimento da fotonovela. Os primeiros indícios desse formato com fotos e narrativa, foram vistos nos cartazes de filmes e anúncios publicitários, que traziam um resumo do que estava por vir nos cinemas. As fotonovelas, como as conhecemos, surgiram na década de 40 na Itália após a II Guerra Mundial, chamadas fotoromanzi ou fumetti, esse último utilizado também para definir os quadrinhos, referindo-se ao espaço das falas parecido com fumaça. Em seu princípio, revistas de fotonovelas publicavam adaptações de filmes, segundo E-Dicionário de Termos Literários (http://www.fcsh.unl.pt/edtl/index.htm) editado e organizado por Carlos Ceia: O neo-realismo em voga na Itália determinou as descrições quotidianas e a temática urbana e realista presente nas fotonovelas. Os iniciadores da fotonovela em Itália foram Stefano Reda e Damiano Damiani que começaram por publicar em revistas adaptações de filmes de sucesso (o chamado cine-romance que adaptou obras como O Conde de Monte Cristo, O Monte dos Vendavais, Ana Karennina, e A Dama das Camélias). Essas primeiras fotonovelas eram protagonizadas por atores populares e as revistas tentavam realçar um determinado tipo de imagem do ator em questão. (Galucho, 2008, s/p). O sucesso da fotonovela foi motivado pela popularização do cinema nas décadas de 1940 em diante, que crescia embora fosse de difícil acesso para o público geral. Não foi à toa que muitos artistas do cinema foram chamados a participar de fotonovelas, aproveitando a fama dos mesmos. Ainda, na década de 1940, segundo Thomaz Souto Correia(2000, p.181), diretor editorial do livro A Revista no Brasil, a revista "Encanto", da Coluna Sociedade Editora, trouxe as primeiras fotonovelas ao Brasil, essas produções eram trazidas de fora, principalmente da Itália, traduzidas e inspiravam-se nos tais folhetins consagrados, como "A Dama das Camélias" de Alexandre Dumas. A impressão da "Grande Hotel" (Ilustração 01), pela editora Vecchi circulou desde 1947, só a partir de 1950, publicou sua primeira fotonovela, mas antes de adotar essa novidade a revista publicava histórias de amor em quadrinhos, com um formato semelhante como pode ser visto na Ilustração 02, se ocupando do mesmo esquema dos quadrinhos para produzir romances, um misto de melodrama familiar, aventuras e fantasias em fascículos, quase sempre com final feliz.

Amor de mãe - Reflexão